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O que aconteceu com a UCCONX?

O que aconteceu com a UCCONX: flop ou golpe?

Eventos nerdolas surgem com uma certa constância nas últimas décadas aqui no Brasil. Mesmo assim são raros os que se mantém, os que crescem e, principalmente, os que realmente entregam suas promessas ao público. O que aconteceu com a UCCONX ainda é uma terrível incógnita e por isso resolvi procurar algumas informações e publica-las aqui.

Claro, a economia não vai bem, está difícil ser gamer, está caro comprar bonequinho, está complicado ler gibi, enfim está difícil ser nerdola. Mesmo os os números assustadores da economia o evento tinha como ingresso mais barato o do dia 27 de Julho, quarta-feira, que custa R$ 250. Durante o fim de semana, dias 30 e 31 de Julho, cada dia tem um valor de de ingresso de R$ 400.

Cada dia de evento dava também a opção ao público de adquirir “extras”: participar de um painel pegando fila por R$ 300, participar de um painel sem pegar fila e tentar tirar uma foto por R$ 1.200, ou participar de um painel e tirar uma foto e um poster autografado por R$ 5.000.

Pode-se falar tudo, mas acessível financeiramente nenhum evento desse tipo é. Aliás, a maioria dos eventos no mundo é assim, neste quesito não há organização boazinha, todos querem esfolar o couro do fã com um Meet and Greet qualquer. Enfim, a culpa é do capitalismo…

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Sátira coloca o logo da UCCONX sobre o cartaz do documentário sobre o Fyre Festival.

Diversas personalidades foram confirmadas para o UCCONX, dezenas de youtubers, personalidades dos games, um skatista, sites fronteiriços, rabugentos e elétricos… Todos com o apoio (?) de empresas como a Faber-Castel, Forma Turismo, Legião dos Heróis, LG, Claro, Chilli Beans, FalleN Store, FMU, Mix FM, dazz, The Saint Mafia e CVPAY. Bem, pelo menos é o que o site oficial mostra neste momento.

Foi prometido um evento maior que a CCXP e o que foi entregue não parece ter passado de algumas luzes em um galpão vazio como fotos oficiais podem mostrar ao fundo. Lembro do burburinho que houve numa rede social quanto aos valores para participar do Artist’s Alley do evento. Mas quem dera este fosse o único problema, tanto que o evento é comparado ao Fyre Festival, evento fiasco no Caribe que não entregou o que prometia e até ganhou um documentário disponível na Netflix.

A seguir relato informações colhidas nas redes sociais, sites de notícia e nos sites da organização. Aproveito para enaltecer os fãs, principalmente as cosplayers, que foram ao evento e em seus perfis publicaram vídeos e fotos em tempo real, possibilitando a confirmação de muitos problemas.

Lembro ainda que apenas relato o que foi transmitido em redes sociais e que maiores investigações são necessárias pelos órgãos competentes.

Última atualização: 31/07/2022
Obrigado a quem tem mandado novas informações constantemente. Este artigo será atualizado assim que compilarmos as informações novas.
Mesmo com o término do evento se algo relevante ocorrer atualizaremos novamente.

História conturbada

Existem histórias ao redor do evento que são assustadoras, mas outras só poderiam acontecer no Brasil pós-golpe. Reproduzo agora diversas passagens de uma thread de Hugo Melo que aparentemente trabalhou e sofreu por ter se juntado ao projeto na época.

Em 2019, dois amigos teriam decidido ganhar dinheiro com o segmento geek sem saber nada sobre o assunto. Dos sócios da época um deles trouxe um investidor que aportou um valor de R$ 8 Milhões para o projeto. O começo parecia promissor.

Para iniciar o projeto uma equipe terceirizada teria sido contratada para a criação do UCCONX e toda a magnitude almejada. Mas o sonho durou pouco tempo já que o dinheiro havia acabado de maneira assustadoramente rápida. Pouco antes disso acontecer estranhamente os sócios teriam aparecido “milagrosamente” na empresa com Porsches novas… Obviamente o investidor ficou chocado e, aparentemente, processou criminalmente os sócios da UCCON MARKETING LTDA.

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Eleven, de Stranger Things, gritando.

A culpa pelo fiasco e e prejuízo recaiu sob a empresa terceirizada de maneira violenta. Em uma reunião com os sócios da UCCONX a diretora da empresa teria sido agredida fisicamente com socos e chutes.

Hugo Melo apontou ainda que em 2021 – quando fora contratado – a UCCONX tinha um pomposo escritório da Vila Olímpia, bairro caro da cidade de São Paulo. Disse também que ficou empolgado com o projeto pois a ambição da organização era algo que impressionava. Segundo Hugo o projeto seria executado pela empresa produziu a abertura das Olímpiadas de 2016 do Rio de Janeiro. O planejamento ainda incluía uma web série animada.

Em Outubro de 2021 seria aberta a pré-venda de ingressos e, como apontado por Hugo, o site não estava apto, o sistema não estava pronto e nem haviam atrações confirmadas. Como resultado foi divulgado que a pré-venda havia esgotado mas, na verdade, o sistema não havia suportado o número de acessos e foi derrubado.

No longo relato de Hugo ainda é apontado que em Novembro de 2021 os salários pararam de ser pagos. Aos funcionários teria sido pedido que trabalhassem de graça e por amor ao evento. Estes ainda deveriam correr atrás de “freelas” para não deixar o sonho do evento morrer.

Segundo Hugo os bens de todos os sócios estariam em nome de terceiros afim de ficarem inacessíveis à venda para o cumprimento de indenizações trabalhistas. Só um dos sócios teria doze processos trabalhistas por conta de outros negócios.

A UCCON MARKETING LTDA, primeira dona do UCCONX, possui – no momento da publicação deste artigo – 11 processos segundo o portal JusBrasil, a maioria do Tribunal de Justiça do Trabalho. As denúncias de abusos não param de surgir nas redes sociais.

A BBL ESPORTS S.A. surge em Dezembro de 2021 mas só teria assumido o projeto dois meses depois.

Karla Tomaz, uma das colaboradoras do evento, diz ter atuado por anos sempre ouvindo promessas vazias e pagamentos atrasados. Diz ainda que sua carreira e vida foram abaladas de maneira que não pôde se reerguer ainda.

Então pra quem vai pro evento amanhã: saibam que vocês estão financiando uma organização que deu golpe em MUITA gente. Se você vai trabalhar no evento: cuidado.

Karla Tomaz

Segundo Felipe Lucio há algumas inconsistências por conta das empresas e os sócios ligados ao evento antes da BBL assumir. Aparentemente a criadora do UCCONX foi a UCCON MARKETING LTDA com capital de R$ 7 Milhões e dois sócios: uma pessoa física e uma pessoa jurídica.

Um dos sócio teria sido candidato à vereador e declarado um patrimônio de R$ 72.400 ao TSE em 2016. Acontece que esse mesmo sócio teria uma incorporadora registrada em 2019 com capital social de R$ 20 Milhões. Tamanho sucesso empresarial não condiz com os relatos de ex-funcionários.

Mas e a BBL, e o …?

A BBL ESPORTS S.A., auto denominada holding de entretenimento especializada em gaming e esports, assumiu o comando da UCCONX em Janeiro de 2022 aparentemente.

A empresa, constituída em 2018 possui três sócios e um capital social de R$ 10 Milhões. É uma empresa conhecida da área da organização de eventos de games por já ter executado o Party of Legends, Girl Gamer, entre diversos outros.

Mesmo assim encontramos denúncias de falta de pagamento dos funcionários como apontado por Ygor Palopoli. Um funcionário teria enviado ao jornalista um e-mail da BBL ESPORTES S.A. avisa que o problema do atraso teria se resolvido. O proprietário afirma que obteve um empréstimo para financiar o evento e, por isso, teriam o pagamento dos funcionários sairia em 7 a 10 dias.

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Fyre Festival ou UCCONX?

O e-mail seria assinado pelo proprietários da Thomas Elias Felsberg, Nando Cohen e Leo De Biase. Diz ainda reconhecer os impactos desse atraso mas que, mesmo assim, contaria com a “colaboração” de todos.

Leo De Biase chegou a participar do programa The Noite do SBT, obviamente não houve comentários sobre nenhum dos problemas mencionados. Tal participação é comumente associada à ação de marketing para promover o evento, o principal assunto teria sido a vinda de do ator que interpreta Ron Weasley ao Brasil.

Porém, no dia 28 de Julho o SBT retirou do ar o vídeo e a página dedicada ao programa que mostrou Leo De Biase promovendo o evento. Tal informação foi apurada pelo jornalista Rique Sampaio.

Também foi visto por um usuário no Twitter que um dos sócios da BBL é um fervoroso apoiador do atual governo federal.

Há muito mais pelo que é dito e mostrado nas redes sociais mas, obviamente, investigações deverão analisar algumas denúncias.

Compre coisas mais baratas do que ir em evento nerdola com frete grátis!

Não pode!

Um FAQ muito interessante (de verdade) foi lançado para os participantes do UCCONX, nele era explicado o que não poderia ser levado no dia do evento. Enquanto há o obvio com a proibição substâncias tóxicas, bicicletas, objetos pontiagudos, pistolas d’água e laser pointer há o outro lado.

Você não pode levar ao evento desodorante. Sim, vai ter que ficar fedendo. Guarda-chuva também não pode assim como eletroportáteis, tablets e notebooks. E, para completar, você não pode levar câmeras e máquinas fotográficas chamadas de “profissionais” (que segundo a organização é qualquer uma com lente intercambiável).

Fãs, otakus ou nerdolas que pagaram R$ 300 ficarão satisfeitos em saber que não poderiam usar pingentes com qualquer tipo de corrente no pescoço. Os cosplayers mais ainda ao saber que se um acessório seu for barrado ele não será devolvido ao final do evento.

Mas tudo bem pois você poderia levar uma boa lembrança tirando uma foto e… Quer dizer, mais ou menos como relata _harucake. O preço das fotos variam entre R$ 9 e R$ 15 e de péssima qualidade.

Fãs se mostraram pouco preocupados com o COVID-19 para tirar fotos com Ian Somerhalder.

Ao site Meio e Mensagem o evento teria se defendido quanto a proibição de levar câmeras fotográficas ao evento: “O UCCONX zela pela transparência e pelo direito de uso de imagem dos artistas envolvidos no festival. Por esse motivo, o uso de câmeras profissionais é limitado apenas à imprensa credenciada e aprovada para cobertura do evento”.

Gastar seu dinheiro também mostrou-se complicado com seu sistema adotado pela organização. Era preciso “recarregar” uma pulseira com créditos com membros do staff que ficavam andando pelo evento. Apenas com a pulseira você poderia comprar comida, quadrinhos ou qualquer outra coisa no Artist’s Alley. E, aparentemente, a recarga não podia ser fracionada demais… Não havia devolução do dinheiro aparentemente.

Calma, se não gostou de toda essa encrenca você ainda pode relaxar no stand de tiro com armas de festim dentro do evento. #ironia

O último dia não foi tão vazio como o restante, mas fica claro que a principal aglomeração é na frente do palco, mas é fácil ver que não há muito além dessa área. Basta ver fotos de influenciadores em seus estandes para notar que o movimento extremamente pequeno ao fundo.

Ygor Palopoli, que foi uma das principais fontes para este artigo, chegou a ser ameaçado de processo por alguém da organização aparentemente.

Ausência confirmada

Nomes da cultura pop sempre engrandecem um evento, ainda mais se pagando rios de dinheiro para a pessoa apenas falar e acenar. Este não seria diferente.

George Takei (Sulu de Star Trek), Ian Somerhalder (Damon de Vampire Diaries) Millie Bobby Brown (Eleven de Stranger Things) e até Rupert Grint (Ron Weasley de Harry Potter) haviam sido confirmados para o evento com vídeo e tudo… Mas pouco antes do início do evento informações desencontradas começaram a surgir.

Takei realmente se mostrou temeroso sobre o COVID-19 que fora confirmado em seu marido, tanto que gravou o vídeo abaixo.

A organização chegou a confirma que Millie Bobby Brown estaria com COVID-19 também, mesmo desmentindo tal informação já era tarde demais e a notícia foi alardeada pela imprensa. Nos dois casos quem adquiriu os “extras” do evento foi repassado, gostando ou não, para o painel do ator Dacre Montgomery ator de Power Rangers e Stranger Things.

Quanto ao cancelamento de Millie a organização declarou em entrevista dada ao SPLASH:

Foi um problema de comunicação entre as equipes. Chegou primeiro para a gente que tinham sido problemas pessoais, depois profissionais. Ela teria ido fazer um teste. Saiu aquilo. Revertemos, pois queremos ser transparentes com todo mundo.

Leo De Biase

Mas tem mais, o ator Ian Somehalder teria sido confirmado para um outro evento nos EUA na mesma data que estaria no UCCONX. Apesar da vinda do ator ele afirmou que não sabia que estaria no Brasil até pouco antes de embarcar. Para piorar a experiência de quem pagou foi conturbada pelo que apurou Ygor Palopoli.

No sábado, dia 30 de Julho, que contou com a presença de Rupert Grint, mostrou-se um dia com mais público. Parte desse sucesso pode ser creditado ao ator de Harry Potter e também aos milhares de ingressos doados pela organização. No momento foi verificado que policiais militares e servidores públicos. Segundo SPLASH teriam sido distribuídos 90 mil ingressos gratuitamente.

Mas não poderiam faltar problemas, é visto nas redes pessoas reclamando de agressão da parte de seguranças da UCCONX. Há relatos de guarda-chuva na frente dos atores para impedir fotografias fora do evento. Dacre Montgomerey teria ido em direção de uma fã e ego na mão dela. O segurança teria batido na mão dela, o ator teria pedido desculpas e seguido seu caminho.

Há declarações nas redes sociais afirmando que a utilização de celulares era proibida nas áreas onde ocorreriam o Meet & Greet e o Painel. Mas isso não impediu Lucas Fresno de tirar uma foto com o Ronnie aparentemente.

Em outra “surpresa” os Castro Bros simplesmente sumiram da página do evento sem aviso.

Os fãs podiam pedir o ressarcimento do ingresso através do e-mail [email protected]. Mesmo assim o PROCON-SP notificou no dia 28 de Julho a UCCONX quanto a cancelamento de atrações confirmadas.

Piticas falsa?

Outra história assustadora ocorreu durante o evento. A ausência de lojas era notável pelos grandes espaços vazios e, algumas marcas que se aventuraram neste evento estão sofrendo.

A marca Piticas aparentemente está e não está no evento. Especulou-se ser uma franqueada mas a qualidade dos produtos, segundo Laura Pyon, é muito baixa, com falhas de impressão e até sujas. Segundo a cosplayer que frequenta diversos outros eventos e é cliente da Piticas nunca viu os produtos com tão baixa qualidade.

Mas não acaba aí, segundo apuração de Felipe Vinha a marca não sabia de sua presença no evento. Tal informação talvez reforce a possibilidade de ser uma franqueada e não a marca propriamente dita que esteja presente no evento.

Há relatos ainda que tentaram “disfarçar” o nome da empresa, que não seria a Piticas mesmo… Mas a “Pitucas“.

Com a palavra, a BBL

Ao TecMundo os organizadores da UCCONX, a BBL, respondeu que a empresa adquiriu o vento em Fevereiro de 2022 e que as denúncias são de um período anterior. Disse ainda que se solidariza e lamenta a situação dos antigos colaboradores do evento.

Pessoas trabalharam e não receberam, talvez solidarizar-se apenas não seja suficiente, não é mesmo? Segundo Hugo Melo a BBL apagou todos os rastros do trabalhadores que atuaram pelo evento anteriormente. Seria isto a dita solidariedade?

A assessoria de imprensa da UCCONX teria informado que a BLL tentou intermediar acordos financeiros entre os ex-colaboradores com os antigos sócios mas que não assumiu a responsabilidade pelas dívidas.

Em entrevista ao SPLASH publicada dia 29 de Julho Leo De Biase teria declarado estar muito feliz com os resultados… Será que os fãs diriam o mesmo?

Por Rodrigo Castro

Debochado e inconveniente. Escritor, roteirista e designer de brincadeirinha.

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