Categorias
Filmes

Eternos

Análise de Eternos, a equipe cósmica dos filmes da Marvel Studios.

Demorei mais que o normal para analisar Eternos, a equipe cósmica de seres imortais da Marvel Studios… Mas tenho bons motivos para isso, a conversa sobre o filme se tornou muito mais importante quando percebi que a crítica – apesar de ter bons motivos para não gostar do filme – não havia entendido boa parte dele. Sim a crítica especializada falhou miseravelmente ao assistir de maneira errada um filme de super-herói.

Logo no início do filme pode-se ouvir Pink Floyd e acreditei que seria impossível errar na história com esta trilha… Na primeira vez que assisti o filme não entendi muitas da nuances de sua trama e decidi absorver melhor para escrever da maneira que o filme merece.

A criação de Jack Kirby nos quadrinhos é bem interessante e visualmente arrojado para sua época, ali vemos como Kirby é realmente um visionário. Confesso, porém, que gosto mesmo dos arcos escritos por Neil Gaiman (Sandman) e estou achando interessante o arco atual – publicado nos EUA entre 2021 e 2022 – escrito por Kieron Gillen (DIE). E só.

Em uma comparação simplista posso afirmar que o filme é mais profundo (e talvez melhor) que os quadrinhos. Apesar disso a ingenuidade exacerbada dos personagens, a inserção forçada do Cavaleiro Negro, a apresentação dos deviantes, o romance Ikaris e Sersi colocado de maneira força. Vi muitos defeitos que não consigo deixar de apontar, mas há contrapontos muito importantes que devem ser apontados e exaltados.

Tive que pesquisar, mas precisei de um tapa na cara do Christian Gonzatti, do Diversidade Nerd, sua visão do universo pop é diferente da minha, o que se mostrou ser um problema para interpretar o filme. Graças ao seu ponto de vista pude ver além dos furos de roteiro e com personagens pouco desenvolvidos. A trama é sim profunda, de uma maneira que nenhum filme de super herói foi até hoje. Além disso lida bem com diversas histórias, apresentando os personagens do jeito que pode.

Este texto contém spoilers e algumas previsões não confirmadas.

Não é a Liga da Justiça da Marvel

Eternos - Duende e Sersi em destaque - Marvel Studios - www.farofeiros.com.br

A Marvel Studios poderia facilmente ter feito um “Liga da Justiça do jeito certo”, afinal as analogias são as mesmas: os deuses do Olimpo. As menções à Batman e ao Superman não são por acaso. Não temos o Apolo clássico, nem Ártemis (Atena?), nem Hermes ou Hércules. Temos pessoas complicadas, mostradas de uma forma humana e sensível, em muito pouco tempo vemos muitas de suas falhas.

A equipe tem poderes quase divinos, literalmente andaram entre deuses, mas mesmo assim mostram suas falhas. Diferente do que vemos no panteão da DC Comics no cinema, não vemos os deuses andando entre nós tomando cuidado para não pisar em seres insignificantes como os humanos. Em Eternos vemos seres preocupados com o destino final daquele planeta e para onde sua missão – dada por um ser superior – irá levá-los.

É fato que não é o trabalho mais inspirado do MCU, mas ele trás histórias importantes de maneira inédita no cinema mainstream que não podemos simplesmente ignorar. Apesar de termos os deviantes como vilões carniceiros quem realmente quer destruir o mundo é Superman e seu deus. Assim como Thanos, o “herói” Ikaris não acredita que está fazendo o mal e, apesar de seu destino, é certo que o veremos em breve. Só espero que com mais raiva e menos gel no cabelo.

Eternos está longe de ser a Liga da Justiça. E isto é muito bom.

A profundidade de Eternos

Os quadrinhos são apenas uma referência distante, mesmo por que – na minha opinião – os arcos bons de história desses personagens são raros. Mesmo as versões históricas originais não são uma leitura fácil: ficção científica e misticismo são extrapolados e, convenhamos, traduzir isso para os cinemas nunca será uma tarefa fácil.

A profundidade de Eternos se resume simplesmente um uma palavra: representatividade. Não me iludo com a suposta bondade da Disney/Marvel neste quesito, incluir pessoas fora heteronomatividade é algo que dá muito dinheiro. Porém, tal fato não excluí a importância de tal inclusão para o indivíduo como membro de uma sociedade – principalmente esta sociedade insiste em tratá-lo com violência e preconceito.

São tantas nuances representativas que é difícil mesmo reconhecer todas. As obviedades são colocadas de maneira extremamente delicada pela diretora que teve muito cuidado com cada uma delas. Seres que inspirarão as mitologias olímpias no Universo Marvel são pessoas como eu e você. Independente da sua sexualidade, raça ou crença.

Kingo, que podemos considerar o alívio cômico da trama, é mais complexo do que aparenta. Sua fé no bem maior parece inabalável, porém isso não impede que ele não ame sua família e os humanos. A diretora Chloé Zhao deixou claro que a maior bravura do personagem foi decidir não ferir as pessoas por conta de sua crença.

Quando você ama algo, você protege. É a coisa mais natural do mundo.

Gilgamesh

Algo louvável também é a relação Gilgamesh e Thena, talvez a que menos tenha sido observada por quem assiste. Como Christian Gonzatti aponta, é comum que uma pessoa PCD seja deixada por seus parceiros românticos quando a “deficiência” dessa pessoa é adquirida ao longo da vida. Como exemplo mostra fotos do seu pai que cuida de sua mãe, portadora de doença degenerativa.

Sem mencionar as histórias de Phastos e Makkari, cada um desses arcos que mencionei renderiam um filme sozinho. São histórias extremamente ricas que colocam uma parcela importante do público sob os holofotes, e é isto o que realmente importa no filme. Pessoas com problemas, traumas, dores reais, terem um alívio de suas dores em um momento de diversão… Você consegue imaginar o quanto isso é importante para aqueles que conseguem se ver em um personagem super poderoso?

O futuro é eterno

Acredito piamente que o primeiro filme não poderia ter sido melhor simplesmente pela necessidade de apresentar esses personagens e suas mitologias que, convenhamos, foge bastante do tradicional. Eternos é um filme introdutório de um universo muito maior do que vemos em Guardiões da Galáxia, por exemplo.

A tecnologia de Phastos ser extremamente parecida com a que é utilizada por Tony Stark pode ter uma história por trás disso. Não saberemos por enquanto o que isso realmente significa mas as similaridades com certeza não são por acaso.

Me surpreendi diversas vezes com alguns detalhes, como por exemplo a simples menção à Forja de Mundos! Além de ressuscitar os Eternos “mortos” veremos outros membros dessa família. Sem mencionar a história que Gilgamesh comenta que ganhou de Odin bebida pela ajuda contra o exército de Laufey em Tonsberg. Thor era “fã” de Kingo – o que explica muita coisa – são detalhes que mergulham esses personagens no Universo Marvel e mostram que uma parte desse universo os conhecia também.

Outro ponto interessante é que, querendo ou não, os Eternos matam um Celestial, isso provavelmente trará consequências em uma escala cósmica… Por isso vemos Harry Styles como Eros (irmão de Thanos) à procura dos outros Eternos. Os pais de Eros e Thanos eram Eternos nos quadrinhos e tudo o que consigo pensar é que isso irá envolver Adam Warlock de alguma maneira… Junto de Gamora, Drax e Pip, o Troll – como nos quadrinhos.

Apesar de toda essa crítica à história, reconheço que estou muito animado para a continuação. Na sequência, sem precisar apresentar personagens, explicar origens e formar laços, será bem mais interessante e, quem sabe, até mais experimental.

É fato que Eternos sai da repetição, e traz nova substância à uma história que poderia se parecer com muitas outras do universo pop. No lugar disso vemos seres imortais lutando com problemas reais, que tanto eu como você passamos em casa – enquanto escrevo e enquanto você lê. Ousar contar uma história nova não deveria ser punido quando a grande maioria não percebe seus pormenores.

Não vi imortais lidando com a humanidade, mas sim humanos lidando com a imortalidade. Todos os problemas que isso envolve pode ser algo da programação deles, mas pode ser também o sinal de humanidade… Como falar que sentirá saudades de alguém que te deu uma facada pelas costas como no caso de Sersi e Duende.

No futuro esta semente deverá nos presentear com saborosos frutos. Talvez isso chame a atenção de um certo surfista e seu mestre que usa um balde roxo como chapéu.

Por Rodrigo Castro

Debochado e inconveniente. Escritor, roteirista e designer de brincadeirinha.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Esse site utiliza o Akismet para reduzir spam. Aprenda como seus dados de comentários são processados.