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O novo Batman

O novo Batman do diretor Matt Reeves com Robert Pattinson e Zoë Kravitz.

O novo Batman é o encontro de tudo o que se esperava com um toque do que já vimos. O morcegão detetive está impecável em sua caracterização mas ainda falho na sua função mais desejada.

O texto abaixo possui spoilers leves da trama de O Batman.

The Batman estreou esta semana no Brasil e o filme é excelente, já devo dizer. Matt Reeves entregou um filme digno das histórias sombrias do Cruzado de Capa nas HQs bem como a melhor cidade de Gotham já representada nos cinemas. Distante do hiper-realismo tecnológico dos filmes do Nolan, que marcaram a postura contemporânea do personagem nos últimos 14 anos, o novo Batman traz um personagem cru, bruto e sujo num roteiro noir digno de grandes thrillers de investigação dos últimos 30 anos.

Reeves ainda consegue montar um roteiro onde o personagem se questiona moralmente diante uma cidade quase premonitória para plateia: corrupta, devastadora para as classes baixas, em crise representativa e governada pelo submundo do crime. Em The Batman a distopia é aqui e agora. Esta Gotham é o que faz valer a existência dos protagonistas. Até o segundo ato vemos um Charada que dança com Bruce Wayne diante dessa cidade pervertida. Um pelo ódio da invisibilidade social, o outro pela história trágica da família que carrega; ambos ligados pela mesmo lema da vingança.

Em toda a construção do personagem, tanto Charada quanto Batman se veem muito mais como agentes do efeito da sujeira moral da cidade do que agentes de transformação, para o bem ou para o mal, se é que cabe esse juízo de valor. Pattinson não decepciona e entrega talvez o melhor Batman dos cinemas até agora para a visão do próprio filme: ele é desconjuntado, luta de maneira feia e pouco coreografada.

O novo Batman - The Batman - www.farofeiros.com.br

Enquanto Bruce Wayne, o ator traz uma versão desconcertada, como se recusasse a própria identidade. Paul Danno complementa o mocergão com um Charada forçadamente deturpado mas não ao ponto de ficar caricato; realista mas instigante e com o mesmo dilema do nosso herói quando afirma que “de máscara (quando encarna o Charada) se sente quem realmente é”. A dança entre os antagonistas é sublime mas ao mesmo tempo decepcionante. Charada é o vilão perfeito para estimular o Batman Detetivão, algo que esperávamos há anos e que nem Nolan conseguiu mostrar.

O problema aqui esbarra no roteiro; para fazer um filme de construção de um personagem ainda tentando se encontrar moralmente, o homem morcego precisa falhar. E nisso ele não decepciona, o maior detetive dos quadrinhos falha miserável e ininterruptamente na missão de investigar durante quase 3 horas. Exceto pela excelente aptidão em resolver charadas, durante quase todo o filme o protagonista está muitos passos atrás do vilão e, por consequência, da plateia. Em determinado arco ouvi um “Que burro!” vindo da poltrona de trás.

Há 40 minutos de filme e cenas de ação que poderiam ter sido resolvidos com uma simples busca no google – aqui confesso que dei uma risada silenciosa. Um Batman jovem precisa estar na escuridão dos fatos (ou de Gotham) para se encontrar, é a jornada clássica do herói, mas Reeves poderia ter afinado essa problemática para aproveitar as reviravoltas e surpreender a quem assiste.

Batman e Selina - The Batman - www.farofeiros.com.br

E tratando de se encontrar, diante de tanto falhar, o arco final se tornou um tanto anticlímax com uma ameaça desproporcional e pouco explorada, ajustada para que o personagem chegue ao auto-entendimento de que ele é o ‘vigilante da vizinhança policialesca de Gotham’, moralmente correto mesmo que agindo fora ‘do sistema’ – algo muito semelhante ao Batman dos quadrinhos menos sombrios ou da excelente animação da Liga da Justiça dos anos 2000.

Reeves e Pattinson têm um mérito gigantesco em reinventar o Homem Morcego que há anos vem sendo explorado quase ad nauseum. O roteiro peca ou decepciona em certos aspectos por necessidade e isso foi uma escolha deixada explícita até para plateia a fim de que vençam as ideias originais e o sentimento de que o novo foi explorado dentro de algo já muito familiar.

Nota geral: 8/10 farofas

The Batman - 8 Farofas - www.farofeiros.com.br

Por José Fernando

Comentarista político(?) no @CoisaBoaPodcast e farofeiro no @FarofeirosCast.

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