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Anatel e a internet injusta

Internet no Brasil sempre foi uma novela… Nunca teve qualidade, sempre foi cara e nunca pareceu melhorar graças à Anatel. Custos diversos e absurdos, impostos obscenos, serviço caro, mão de obra não especializada… basta dizer que até roubo de cabos influenciam no valor que as operadoras de internet acabam repassando para o cliente. Nessa conta acabamos pagando mais do que países de primeiro mundo por menos qualidade que lá fora, a assinatura sendo limitada ou não.

Tudo começou quando só existia internet discada, pagava-se o pulso telefônico além do tempo de acesso no provedor por uma velocidade pífia. A tecnologia evoluiu, hoje rezo para a chegada da fibra ótica no bairro que moro para finalmente largar o pacote de internet que utilizo… veja bem, inicialmente eu só queria o serviço de internet, mas acabei ficando com a TV a cabo e, como o pacote é mais barato (ou menos caro) aceitei o combo de telefone mais um ponto adicional de TV que no momento não uso.

Hoje eu trabalho via internet, acesso computadores remotamente, acesso vídeos tanto para o lazer como aprendizado, gerencio o blog e faço upload constante de imagens e vídeos, jogo online diversos jogos, uso softwares de comunicação por voz, uso serviços de stream de filmes, pago contas, baixo jogos e programas, baixamos muita coisa nos celulares e usamos serviços de stream de músicas… e querem que eu limite minha vida online em nome do lucro de quem já ganha sem fazer nada. Minha família vai ter que dividir nossa conexão em três e decidir o que é prioridade para quem para não ficarmos sem internet ou termos que pagar bandeira dois.

Saiba que não querem só limitar meu jogo, querem limitar meu acesso a pensamentos diferentes do meu, conteúdos científicos, querem cortar o conhecimento de fácil acesso! Bem que eu queria que o problema todo fossem apenas os jogos e o Netflix, o buraco é mais embaixo! Querem impedir que você poste seu vídeo revoltado com a situação do país, querem impedir que você tenha a liberdade de expressão sem a Globo filtrar o que pode e o que não pode aparecer. Querem que paremos de fazer memes com Eduardo Cunha, querem impedir de você fazer textão no Facebook

Tudo para que sua operadora de internet tenha lucro, afinal eles ganham pouco sabe. E se o preço do combustível aumentar? Ah, andem menos de carro. Se o preço dos alimentos subir? Coma menos. Se estiver com sede beba menos água… Desculpe o desabafo, mas é tanta ignorância na declaração do presidente da Anatel, o lindíssimo Sr. João Rezende, que não consigo argumentar linearmente… de todo jeito limitar não é solução em um mundo cada vez mais online.

Os jogos online

Coibir acesso á informação é idiotice e culpa a utilização de jogos e recomendar jogos que não usam internet é burrice… se o Sr. João Rezende e a Anatel estivessem fazendo seu trabalho corretamente teriam informações mais que suficiente quanto a isso e evitariam de falar tantas asneiras. Cito então o excelente texto da IGN (apesar de olharem apenas o lado dos games, não se importarem com o resto) mostrando o quanto se gasta com jogatina online, segundo o presidente da Anatel, seria o culpado… a conclusão é que jogos online não consomem banda como ele sugere. Durante o teste de Star Wars: Battlefront um jogo massivo de 40 jogadores simultâneos não gasta mais do que 30mb de donwload e upload… e mesmo assim se morre por excesso de lag.

A Associação Brasileira de Desenvolvedores de Games se pronunciou de forma exemplar no Facebook.

Serviços de streaming

Netflix, YouTube, Spotify, Twitch são só alguns nomes de serviços online que brotam como o futuro do compartilhamento de cultura, seja ela qual for: receitas indianas sem canela, séries completas de super herói, filmes alternativos gratuitos, documentários. É absurdo querer catalogar tudo o que se pode ganhar utilizando esses serviços. Mas como um professor de faculdade me falou na época de elaboração do meu TCC: “Cultura não dá dinheiro”.

O cinema nacional, pequenas produtoras, músicos, streammers… Toda uma categoria que foi criada graças à esses serviços simplesmente teriam que parar de trabalhar por conta da transmissão de dados que usam e, pior ainda, seu público não teria acesso ao seu conteúdo pela mesma limitação. Imagine ter que escolher qual vídeo de gatinho fofo você vai ver este mês no YouTube.

Os serviços realmente consomem muita banda, mas limitar tal acesso é dar um passo para trás na evolução tecnológica do país. Não são pelos memes, são pela quantidade de pessoas que buscam conhecimento para então editar vídeos e imagens e compartilhar com toda a internet. Quem sabe o próximo passo é bloquear as gifs animadas do Facebook ou o áudio do Whastapp, afinal tem gente que fica o dia todo nisso não é mesmo?

Corrupção? Onde?

Em 2011 o Sr. João Rezende foi visto comemorando em um restaurante caro de Brasília junto de representantes da NET e da Oi… Se existe alguma coisa eu não sei mas que está claro que ele apoia o quartel armado pela telecomunicação brasileira é óbvio. Tire suas próprias conclusões mas tal atitude é no mínimo suspeita para o presidente do órgão que deveria legislar a favor do brasileiro.

Ainda é preciso lembrar que as mesmas empresas que oferecem internet no Brasil são operadoras de TV a cabo, esta segundo tem sofrido com a debandada de audiência para essas plataformas online. É mais fácil você achar um bom documentário hoje no Netflix do que no Discovery Channel, e como eles mudam essa situação? Melhoram a qualidade do canal? Claro que não, “vamos é cortar o acesso do cliente à concorrência”.

Concluindo

No resto do mundo a internet é limitada sim, mas os pacotes de dados e as velocidades são incomparáveis com a do Brasil que “obriga” a operadora a servir no mínimo 10% da velocidade contratada! Imagine-se navegando na bandeira dois apenas com 3Mb de velocidade, se for assim é melhor eu desenterrar uma placa de modem e tentar discar para o iG. E como sempre é preciso lembrar que estamos em um país que se constroem estádios no lugar de hospitais… Tal atitude só irá nos isolar do resto do mundo.

A nossa batalha por justiça só será válida se o conhecimento e o pensamento for compartilhado com todos, sem limite de transmissão de dados. Não há internet justa com limitação.

Por Rodrigo Castro

Debochado e inconveniente. Escritor, roteirista e designer de brincadeirinha.

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