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Sobre telas, porcos e diamantes

Outro dia eu estava vagando sem rumo pela Netflix, procurando algo para assistir que não fosse um documentário sobre serial killers ou uma comédia romântica com Adam Sandler. Foi então que me deparei com o ícone de Vanilla Sky, o remake de Cameron Crowe de 2001 do filme espanhol Abre los Ojos, de 1997, de Alejandro Amenábar.

A película trata de um homem que vive uma realidade distorcida após um acidente de carro que desfigura seu rosto. Ambos os filmes exploram temas como a percepção da realidade, a relação com a tecnologia, a vaidade humana, os sonhos e a morte. Não é um filme bom do ponto de vista artístico, mas era o meu filme mas eu me emocionei com a história novamente.

Eu me identifiquei com o protagonista e seus dilemas existenciais. Eu me apaixonei pela Penélope Cruz e pela Cameron Diaz. Eu me arrepiei com as cenas de uma Nova York outonal vazia. E era primor técnico: fotografia, os efeitos especiais, edição, trilha sonora, figurino… Tudo perfeito. Menos o Tom Cruise, que tem a mesma expressão facial em todas as cenas. Abri para ver. Mas algo não estava certo.

 A fotografia, que para mim era o ponto máximo do filme, estava errada. Parecia que alguém tinha jogado um balde de tinta em cima da tela. Foi quando eu tive uma epifania. Era o maldito OLED da tela mais plana que a Terra de um olavista. Não existiam essas telas planas e em formato wide em 2002. Só existiam as telas de tubo, que pesavam mais que um elefante e custavam o preço de um Gol bolinha.

Outra coisa, desta vez muito mais subjetiva: era muito bom ver os filmes que passavam na TV aberta, seja na sessão da tarde ou no Corujão. Havia algo delicioso em ver os filmes que a TV ia passar ao longo do ano ou se surpreender com um clássico na programação semanal ou passar a aula bocejando por ver Cruel Intentions na reprise de madrugada…

TVs de tubos de raios catódicos eram mais comuns e, na minha opinião, ofereciam uma qualidade de imagem superior, apesar das suas limitações geométricas e técnicas, que voltarei a falar a seguir. Além disso, o velho e bom DVD  proporcionava uma experiência de visualização mais satisfatória para Vanilla Sky.

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Isso me levou a uma reflexão interessante: será que isso acontece com outros filmes? Quantas vezes assistimos a um filme na televisão e ficamos em dúvida se ele é realmente tão bom quanto lembrávamos? Ou, ao contrário, será que alguns filmes que considerávamos ruins são na verdade vítimas de cortes, dublagens precárias, comerciais ou qualidade de imagem e som ruins? Será que uma versão mutilada e distorcida de uma obra-prima pode nos enganar? Será que estamos vivendo em uma realidade ilusória como o protagonista de Vanilla Sky? Será que podemos escolher entre a realidade amarga ou o sonho doce? Será que os filmes são apenas projeções dos nossos desejos e medos? 

Pois bem, eu tenho uma boa notícia para você: hoje em dia, você pode 

rever todos os filmes que você quiser com os avançados recursos de áudio e vídeo que temos à disposição. Você pode ver os filmes em alta definição, com som surround naquele seu fone com APX, com legendas ou áudio original, sem censuras ou interrupções dos editores da emissora tentando colocar um comercial da nova Philips magrinha, apesar de alguns destes comerciais serem ótimos. Você pode descobrir detalhes que você nunca tinha notado antes, como a expressão dos atores, os efeitos especiais, a fotografia, a trilha sonora, a direção de arte. Você pode apreciar melhor o roteiro, os diálogos, as referências, as críticas, as mensagens. Você pode se surpreender com filmes que você achava que conhecia de cor e salteado. 

Ponto primeiro: a tela. A proporção de uma tela é a relação entre sua largura e sua altura. O formato 4/5 é uma proporção antiga, usada em TVs e monitores anteriores ao padrão HD. O formato 16/9 é o mais comum atualmente, usado em TVs, monitores e smartphones com resolução HD ou Full HD. O formato 21/9 é um formato mais largo, usado em alguns filmes de cinema e em alguns monitores ultrawide. Uma solução é dar zoom no filme, fazendo com que ele ocupe toda a largura da tela, mas cortando um pouco da imagem na parte superior e inferior.

Para exibir filmes em 21/9 em uma tela com outra proporção, é necessário fazer algum ajuste. Se a tela for 16/9, o filme ficará um pouco maior, mas ainda com faixas pretas menores nas laterais.  Portanto, o formato 4/5 é o pior para exibir filmes em 21/9, pois desperdiça muito espaço da tela e reduz a qualidade da imagem. O formato 16/9 é melhor, pois aproveita mais a tela e mantém a imagem inteira. O formato 21/9 é o ideal, pois corresponde à proporção original do filme e não precisa de nenhum ajuste, mas são raras as produções neste formato.

Mas este ainda não era o único problema da execução ou recepção da transmissão de um filme em TV em VHF/UHF, que é um sistema analógico que utiliza faixas de frequências muito altas e ultra altas para enviar sinais de áudio e vídeo modulados. A qualidade do áudio depende da potência do sinal, da distância da antena e das interferências. O áudio pode apresentar ruídos, chiados e distorções. Muitos. Os filmes que vimos na TV analógica tinham mais chuviscos que filme. 

Mas como escolher quais filmes rever? Outra coisa que estava indisponível na época da TV analógica é a capacidade da Internet atual. Uma boa dica é consultar bancos de dados online como o IMDb (Internet Movie Database), que reúne informações sobre milhões de filmes de todo o mundo. Lá você pode ver as notas e os comentários dos usuários, as sinopses, os trailers, os elencos, as curiosidades, os prêmios e muito mais. Você pode pesquisar por gênero, por ano, por país, por diretor, por ator ou por qualquer outro critério que você quiser. Você pode criar listas personalizadas dos filmes que você já viu ou que quer ver. Você pode participar de fóruns e debates sobre os filmes que você gosta ou não gosta.

Aqui estão alguns dos melhores e mais influentes filmes (segundo o único critério relevante: a minha opinião) para você (re)ver no conforto do seu sofá, sem chuviscos ou comerciais:

  1. Cidadão Kane, de Orson Welles, um filme que revolucionou a técnica e a narrativa cinematográfica e que conta a história de um magnata da imprensa que morre misteriosamente.
  1. Os Sete Samurais, de Akira Kurosawa, um filme de ação e drama que mostra um grupo de samurais contratados para defender uma aldeia de bandidos.
  1. O Senhor das Moscas, baseado no livro homônimo de William Golding, que conta a história de um grupo de meninos que ficam presos em uma ilha deserta após um acidente de avião. Sem a supervisão de adultos, tentam criar uma sociedade própria, mas acabam se dividindo em facções rivais e entrando em conflito.
  1. Janela Indiscreta, de Alfred Hitchcock, um suspense que mostra um fotógrafo que testemunha um possível crime do seu apartamento e se envolve em uma trama perigosa.
  1. Laranja Mecânica, dirigido por Stanley Kubrick, baseado no livro de Anthony Burgess. É um filme polêmico e violento, que mostra a vida de um jovem delinquente que é submetido a um tratamento experimental para curar sua agressividade. O filme é considerado uma obra-prima do cinema e uma crítica à sociedade moderna.
  1.  O Poderoso Chefão, de Francis Ford Coppola, uma saga épica sobre a máfia italiana nos Estados Unidos e as disputas de poder entre as famílias da máfia italiana.
  1. Quadrophenia, por Franc Roddam, baseado no álbum homônimo da banda The Who. É um filme que mostra a cultura mod na Inglaterra dos anos 60 através da história de um jovem rebelde que se envolve em brigas de gangues, Vespas e conflitos familiares. O filme tem uma trilha sonora marcante e um elenco que inclui Sting e Ray Winstone.
  1. Muito Além do Jardim, dirigido por Hal Ashby, estrelado por Peter Sellers, conta a história de um jardineiro simples e ingênuo que se torna uma celebridade da mídia e da política, sem saber o que está acontecendo. O filme é uma sátira social e uma reflexão sobre a comunicação, a realidade e a percepção.
  1. Pulp Fiction, de Quentin Tarantino, é um neoclássico que entrelaça várias histórias de criminosos em Los Angeles. O filme é famoso por seus diálogos inteligentes, sua violência estilizada e suas referências à cultura pop.
  1. Snatch: Porcos e Diamantes, de Guy Ritchie, mostra as confusões de um grupo de ladrões que roubam um diamante valioso e se envolvem com gângsteres, ciganos e policiais corruptos. O filme tem a participação de Brad Pitt, que trabalhou com Tarantino em Bastardos Inglórios e Era Uma Vez em… Hollywood.
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E alguns bônus, para prestigiar um clássico e o renascimento renascimento do cinema nacional:

  1. Orfeu Negro, apesar de dirigido pelo francês Marcel Camus  reconta o mito de Orfeu e Euridice em pleno carnaval do Rio de Janeiro do fim da década de 1950. Ganhou um remake em 1998.
  1. Central do Brasil, de Walter Salles,  que mostra a jornada de uma ex-professora que escreve cartas para analfabetos na estação Central do Brasil, no Rio de Janeiro. Ela se envolve com um menino órfão que procura o pai no interior do Nordeste.
  1. Cidade de Deus, de Fernando Meirelles e Kátia Lund, é um filme que retrata a vida de moradores da favela Cidade de Deus, desde os anos 60 até os anos 80. É uma narrativa de violência, crime e sobrevivência, contada pelo ponto de vista de um jovem fotógrafo.

Por Alessandro F. Rodrigues

William Foster cosplaying Ferris Bueller.

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