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Por que o MST deveria criar a sua própria universidade?

O MST é um grupo de pessoas que vive no campo e que quer terra para produzir e viver. O MST começou em 1984, quando muitas pessoas que não tinham terra se juntaram para pedir ao governo que fizesse a reforma agrária. A reforma agrária é um processo contínuo de transferência de terras e mudanças em que permitem a dis divide grandes propriedades em pedaços menores e dá-los para quem precisa. O MST também luta por mais saúde, educação, trabalho e respeito ao meio ambiente no campo. O MST faz protestos, ocupações, marchas e outras ações para chamar a atenção da sociedade e do governo para os problemas dos trabalhadores rurais sem terra. O MST também produz muitos alimentos saudáveis, como arroz, feijão, mandioca e hortaliças, sem usar veneno. O MST é um expoente da agricultura familiar e do ecossocialismo no Brasil.

O MST é movimento social. A Constituição brasileira de 1988 diz que os movimentos sociais, dentre eles os grupos que lutam por terra são importantes para a democracia e a justiça social. O Estatuto do Homem, da Liberdade e da Democracia, a nossa Lei Maior, também diz que a propriedade privada deve ser utilizada de um jeito bom para a sociedade e não só para o proveito do dono. Isso é chamado de função social da propriedade, e ela quer dizer que terras, veículos, máquinas, equipamentos, fábricas, casas, etc., devem ser usados de acordo com as necessidades e os interesses das pessoas que vivem num determinado local. A função social da propriedade limita o direito de quem tem uma propriedade, para garantir que esse direito não seja ruim para o bem de todos.

A reforma agrária é prevista pela Constituição como uma política pública que visa a promover uma melhor distribuição da terra, mediante modificações no regime de sua posse e uso, a fim de atender aos princípios de justiça social e ao aumento de produtividade. Ela estabelece que compete à União desapropriar por interesse social, para fins de reforma agrária, o imóvel rural que não esteja cumprindo sua função social, mediante prévia e justa indenização em títulos da dívida agrária. A Constituição também prevê que são insuscetíveis de desapropriação para fins de reforma agrária a pequena e média propriedade rural, assim definida em lei, desde que seu proprietário não possua outra; e a propriedade produtiva. Ou seja, apenas é justa e legal a ocupação de latifúndios improdutivos.

Você sabia que o MST é o maior produtor de arroz orgânico da América Latina? Um dos maiores produtores de leite do Brasil? Talvez não, então o MST precisa aprender a se comunicar melhor.

Comunicação social é importante, vai que algum dia a direita chucra tire do rabo uma CPI para investigar o movimento, não é mesmo? É uma área que necessita de profissionais qualificados e antenados no mundo. Assim uma das formas do MST se fortalecer e crescer é formar pessoas que possam trabalhar em várias áreas. Mas não só em marketing, também no direito, na economia e gestão, biologia, engenharia, educação básica, medicina e medicina veterinária. Essas pessoas podem trabalhar em universidades, laboratórios, escolas técnicas e centros de pesquisa do próprio movimento ou junto com outras organizações e movimentos sociais.

A educação técnica e universitária fornecida a alunos com uma educação básica fundada na justiça social, no pensamento crítico, na formação para cidadania com respeito aos direitos humanos e à natureza, criariam pessoas aptas a construir uma rede de apoio e solidariedade amplas na sociedade brasileira como um todo. As pessoas formadas pelo MST poderiam trabalhar junto com outras organizações da sociedade civil e movimentos sociais. Ou tornarem-se vereadores, prefeitos, deputados… O movimento poderia ainda estabelecer os seus próprios laboratórios de pesquisa e desenvolvimento,

A resposta a estes desafios? Uma universidade própria.

O MST tem algumas razões para formar essas pessoas nessas áreas, ao formá-las fica mais independente e capaz de fazer as coisas. Assim, o movimento tem gente preparada para lidar com questões de lei, de comunicação, de economia domésticos, da gestão sustentável da terra e preservação dos solos, de educação e saúde, de acordo com seus princípios e objetivos. Um exemplo disso é a informação de que a Universidade Federal de Pelotas formou 60 médicos veterinários vindos de assentamentos pelo País através do PRONERA.

Educação profissional específica permitiria que o MST atendesse às necessidades dos que vivem no campo de assistência nos mais diversos setores. Por exemplo, advogados e professores formados pelo movimento podem ajudar nas questões jurídicas e educacionais dos assentamentos e comunidades rurais atendidas por clínicas jurídicas e escolas de ensino básico nas comunidades. Assim ajudando a combater a imensa desigualdade educacional e de acesso à justiça que existem nas áreas rurais Brasil afora. Ao capacitar membros nessas áreas, o movimento buscaria criar condições mais justas e iguais para a população rural de geração de emprego, lucro e renda

A promoção do conhecimento técnico também seria muito amplificada, já que quadros internos em áreas como a engenharia (sobretudo de produção, agronômica, e ambiental), biologia e medicina veterinária permitiriam que o MST desenvolva conhecimentos técnicos e científicos sobre a agricultura familiar e agroecologia. Isso fortalece práticas que cuidam do meio ambiente e contribui para a produção de alimentos saudáveis e a preservação dos recursos naturais. E podem gerar novos produtos, serviços e patentes concedidas.

Conhecimento é ouro, não “ouro verde”, como foi chamado um dia o café. E, por falar em café, o MST produz o Terra de Sabores e o Guaií, orgânicos, destacados entre os melhores do Brasil.

Por Alessandro F. Rodrigues

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