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Mulher Rei e a história que finalmente estão contando nos cinemas

Confira nossa análise de Mulher Rei com Viola Davis, Thuso Mbedu, Lashana Lynch, Sheila Atim e John Boyega.

Demorou décadas para que a história do colonialismo fosse contada como foi na realidade nos cinemas. Precisou de um movimento antirracista intenso que decorreu ao longo das últimas décadas e de um mínimo de condição de vida para que pessoas negras pudesse reivindicar seu lugar histórico. Como vemos em Mulher Rei.

Hoje, FINALMENTE, temos produções midiáticas que se preocupam com diversidade, seja na construção do elenco quanto no próprio tipo de roteiro a ser contado.

Mulher Rei recebe esse momento onde se falar sobre a realidade como realmente foi e o abraça com um filme recheado de questões sobre colonialismo, imperialismo, racismo estrutural, colorismo e auto reconhecimento racial. Algo ainda muito complexo de ser discutido e reconhecido quando se vive dentro da ideologia branca, a ideologia dominante em quase todo os países consumidores das culturas estadunidense e europeia.

Viola Davis está em uma das atuações mais impactantes da sua carreira ao viver o papel de Nanisca, uma general do exército das “Amazonas do Daomé”, as Agoodjie, um grupo de mulheres que faziam o papel militar de defesa do Reino no Daomé que hoje é o Benin na África Ocidental.

O filme conta como Nanisca, que tem o crédito de ter ajudado o atual rei a ser coroado, treina e guia as Agoodjie em diversas missões que garantem um dos mais poderosos e longevos reinos africanos. A história se desenrola durante um período onde o comércio de escravos da África para a América está intenso, sobretudo para o próprio Brasil representado pelo colonizador de família portuguesa que vai à África comprar pessoas para manutenção do seu tráfico. 

É interessante ver o debate sobre permitir que os próprios nativos fossem vendidos para que se houvesse equilíbrio. Entre as disputas internas da própria região que cercava o Daomé e como o europeu lucrava com conflitos entre reinos e grupos étnicos da própria África de forma praticamente incólume.

Todo este processo é apresentado sob o olhar de Nawi (Thuso Mbedu), uma jovem que foi oferecida pelo pai a entrar no duro processo de treinamento para se tornar uma Agoodie. Nawi recebe a tutela de Izogie (Lasanha Lynch) em uma atuação digna de quem realmente ascendeu ao cinema para ocupar com perfeição esse vácuo onde filmes de ação com homens velhos e brancos estão saturados.

O trio de mulheres guiam Mulher Rei com ferocidade e delicadezas próprias em diálogos de auto reconhecimento e construção até o seu clímax onde temos um gosto memorável de uma vitória contra o racismo colonizador de forma bastante prática e explícita.

A morte do homem branco aqui é tratada não somente como uma forma de expor inimigo mas, sobretudo, como um saboreio daquilo que com certeza aconteceu inúmeras vezes durante o massacre que foi feito no continente africano nos últimos séculos. Mesmo assim não foi o suficiente para frear um processo que dizimou milhões de pessoas no maior genocídio continuado da humanidade.

Por José Fernando

Comentarista político(?) no @CoisaBoaPodcast e farofeiro no @FarofeirosCast.

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