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Isso é um desabafo e mais nada

Isso é um desabafo e mais nada, então aquieta aí.

Ataques em redes sociais fazem parte do cotidiano de quem faz comunicação política. Propagar informações verídicas, sendo ou não enviesadas pela sua ideologia, sempre repercutem e acabam trazendo para as suas redes (no meu caso em especial o Twitter) uma leva de radicalizados de extrema-direita bradando a favor de suas crenças mais profundas. 

O discurso de ódio de alguns usuários das redes, especialmente daqueles que usam perfis falsos, é prática cotidiana e quem trabalha (remuneradamente ou sem ganhar um centavo como no meu caso) falando sobre política sempre sofrerá, em algum momento, com ataques coordenados. Muitas vezes os ataques são desproporcionais ao seu tamanho e a sua micro-influência.

Cabe aqui exemplo de um meme que tomou conta das redes: qualquer ato do Lula fazia surgir capas de jornais sobre reações negativas do mercado financeiro, assim a situação (porque agora, de fato, deixo de ser oposição ao governo) passa a usar os descalabros de Jair Bolsonaro e os impactos do antigo governo com a pergunta “mas e o mercado hein?”

Eis que em uma brincadeira, sem qualquer intenção da minha parte de ganhar seguidores ou viralizar, recebo uma enxurrada de ataques de liberais e conservadores. Sem entender o meme, pessoas que habitam os arredores da Faria Lima me deram sermões virtuais e ainda hoje o tweet ou seu print repercutem. 

Para além de tentarem explicar o que já sei (sim, eu sei como mercado financeiro funciona e o tweet foi escrito pelo meme apenas) foram muitos os ataques com termos pejorativos que, desculpem, não irei repercutir pois se tratam de termos tão chulos que me fazem acreditar que essas pessoas jamais poderiam conviver em sociedade.

Mas os ataques vindos do lado de lá do cordão imaginário que divide esquerdas e direitas não me afetam. Em geral, tendo a rir das repercussões ou usar ao meu favor para fazer mais piadas, usar mais memes e, por óbvio, aproveitar a repercussão para mostrar o machismo e a misoginia contra a mulher que adentrar espaços políticos, sejam eles virtuais ou analógicos. 

Contudo, para todo ataque proveniente do lado de lá da corda imaginária, temos os ataques do lado de cá. Não estou falando de discordâncias ideológicas ou do fazer político, que são parte das diferenças entre as esquerdas e cuja discussão é saudável na construção de uma sociedade mais justa e igualitária. Discordar, debater e apontar argumentos fazem parte da democracia e isso deve ocorrer em todos os espaços. É o famoso “quebrar o pau na reunião e depois sentar no bar pra tomar uma cerveja”. 

Eu falo aqui de ataques, muitas vezes sem qualquer coordenação, que surgem do nada e acabam em muito. Recentemente recebi dois ataques que me deixaram pensativa e fiquei imaginando o que passaria na cabeça dessas pessoas ao estarem em frente aos seus computadores ou ao pegarem seus celulares e optarem pelo ataque rasteiro e baixo.

O primeiro foi proveniente de uma piada. No Twitter, mais uma dessas discussões que só existem lá e nunca na vida real, pessoas de diferentes grupos debatiam os rumos da comunicação do governo. Vi em minha timeline diversas pessoas com as quais convivi, e algumas com as quais não tive grandes trocas, se engalfinhando virtualmente por uma vaga inexistente na Secretaria de Comunicação do governo federal. 

Entre um tweet e outro vi pessoas que usam de forma equivocada suas próprias redes, às vezes postando conteúdos típicos de whatsapp no instagram ou produzindo material característico de twitter no facebook. As plataformas têm linguagens diferentes, isto dito, fiz piada de que pessoas confundiam plataformas, mas tive a péssima ideia de não usar nome de uma rede social comum e sim de uma rede focada em público adulto. Obviamente acreditaram que se tratava de algo direcionado, e no fundo não era, e trataram de atacar deliberadamente. De DAMARES DA ESQUERDA até BOLSONARA, fui chamada de tudo o que pudesse me colocar como conservadora e criadora de pânico moral. Justo eu que passei pelos maiores ataques no ambiente de trabalho (uma escola pública) por ter postado uma foto de biquine no instagram. 

Mas essa nem foi a cereja do bolo, a cereja veio após o encontro com Janja no Palácio do Planalto. Foi uma reunião com influenciadores, pessoas que trabalham com comunicação. Uma reunião que já citei em outro texto. 

Por alguma razão, ainda por mim não compreendida, decidiram que quem estava lá defenderia o Novo Ensino Médio e as fundações que hoje tentam adentrar educação pública com conteúdos avessos à construção da cidadania e componentes curriculares estranhos aos anseios estudantis. Em questão de minutos, me transformaram em alguém horrível que merecia “ser perseguida até o inferno”. 

Um dia eu estava fazendo uma live sobre como Novo Ensino Médio pode ser nocivo e escrevendo em um relatório para o Grupo de Transição em Educação sobre o como a redução da carga horária de Ciências Humanas poderia afetar a juventude. No outro eu estava sendo acusada de receber pagamentos do governo (ou de fundações) para propagandear o Novo Ensino Médio como algo positivo.

Eu que tenho um nicho pequeno e que nem perto de ser agenciada estou, visto que não tenho qualquer influência em redes de fotos e vídeos, fui acusada de ser “agenciada por qualquer agência” e de estar produzindo conteúdos que contradizem meu discurso e a minha ética profissional.

Por fim, sim, esses ataques vindos do lado de cá da corda imaginária que divide esquerdas e direitas me afetou. Me fez repensar sobre quem chamo de aliado e sobre quem eu quero do meu lado seguindo essa árdua batalha de colocar esse país novamente nos trilhos. 

E até agora só há uma coisa que é certa: apesar da tristeza ter me abatido nas primeiras horas, isso me proporciona mais inspiração para seguir comunicando.

E antes que professores de língua portuguesa sem formação em letras apareçam: esse não é um texto acadêmico e muito menos se trata de uma crônica bem redigida. É só mais um desabafo de um ser humano que apanha diariamente, mas em algum momento cansa de ser forte e aguentar tudo sozinha.

Por Paola Costa

Professora, podcaster e palpiteira. Só falo de temas aleatórios, não reparem a bagunça (ou reparem).

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