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Como a Marvel matou Krakoa

Saiba aqui como a Marvel matou Krakoa, uma das melhores sagas dos X-Men.

Jonathan Hickman é o autor que ainda me faz ficar animado com as histórias em quadrinhos de super-heróis. Não é o único autor que leio, mas sempre procuro o que é de sua autoria por saber que algo de diferente ou instigante a trama trará. Os X-Men estavam no limbo, jogados para o lado com argumentos pífios e histórias pouco empolgantes onde a única coisa que se sabia fazer era matar e ressucitar Jean Grey. A Era de Krakoa mudou isso, a história completa gira em torno de um bem maior, de uma história que já é uma saga, totalmente diferente do que os mutantes da editora tinham passado nas últimas décadas… Mas aí a Marvel matou Krakoa.

A Era de Krakoa trouxe a ficção científica para o mundo dos X-Men e tudo – por mais absurdo que parecesse – existia com um propósito. A ficção científica estava ali o tempo todo com conceitos de astrofísica como a divisão de civilizações interplanetárias, engenharia genética avançada, viagens no tempo, alta tecnologia, tecnologia orgânica e até o advento de IAs e uma nova raça. Tudo isso estava unido em uma única trama.

Havia dramas pessoas, romance, morte, intriga, política e guerras. Os mutantes estavam realmente em um ponto que mereciam todo o cuidado para que seu universo realmente fosse ampliado da maneira correta. Mas acabou… A partir daqui potenciais spoilers sobre dos X-Men podem surgir.

Abaixo você confere nossa live sumarizando este artigo – com spoilers – e a seguir você acompanha o texto que vai mais afundo dessa história com links para você ir ao cerne da história.

O que foi a Era de Krakoa

Professor X - Apocalipse - Krakoa - X-Men - Deu tudo certo em House of X #5 - Marvel Comics - Blog Farofeiros

Krakoa não é só uma ilha, mas um biossistema composto por um poderoso vegetal mutante que acreditou no plano de Moira MacTaggart, Charles Xavier e Erik Lehnsherr. Esse plano surge após Moira mostrar que na verdade é uma mutante com uma habilidade diferente: quando ela morria a linha do tempo era reiniciada, isso aconteceria diversas vezes até que um dia ela encontrou a mutante Sina que viu seu futuro e desvendou os mistérios de sua habilidade. Porém o choque vem do fato em que, independentemente do que Moira faça nessas outras vidas, os mutantes perdem e são dizimados em algum momento da história.

A ilha é autossuficiente, mas com poder o bastante para compartilhar com o resto do mundo e garantir a coexistência com os humanos no mesmo planeta. Os mutantes agora tinham funções e, a maioria delas, conectava-se com harmonia à outro mutante, dentre os diversos sistema o mais impressionante é sem dúvidas a ressurreição. Havia um backup mental de todos os mutantes, de seu DNA e, com cuidado e poder suficiente, eles renasciam prontos para enfrentar qualquer batalha novamente.

Os mutantes buscaram a ONU atrás de reconhecimento como nação soberana, com suas leis, embaixadas e acordos comerciais com o mundo humano. É interessante demais ver a reação dos humanos, incluindo brasileiros conservadores da época, representando nosso país falando groselhas para Magneto. Mas não é só a política terrena que era vista como importante, a intergaláctica também. Por isso Marte foi terraformada surgindo assim Arakko, um porto interplanetário e trono da rainha do sistema Sol, a mutante Tempestade. Isso levou também a criação de uma moeda mutante, baseado em um metal “mutante” chamado Mysterium.

As potências e a dinastia de X não foram suficientes para que a história dos X-Men continuasse. Nunca imaginei que Krakoa duraria para sempre, nem imaginei que haveria paz eterna entre aquele bando de mutantes pelados. Mas não imaginei que a Marvel Sutudios levaria a Marvel Comics a mudar toda uma saga, afinal um possível filme tem que ser parecido com os quadrinhos. Ou não?

O fim de Krakoa

O fim de Krakoa ainda é agonizante para quem foi fã desta fase dos X-Men. A saída de Hickman do projeto e o anúncio de novos projetos dentro da editora deveriam ter servido de indicação para os fãs de que algo iria desandar em algum momento. Me parece que todos os novos projetos seriam uma espécie de “pagamento” por terem que tirar os X-Men de suas mãos e colocarem eles onde estavam decadentes antes de sua chegada. Após sua saída autor assinou o roteiro de GODS, Ultimate Invasion, o novo Homem Aranha Ultimate e até Aliens Vs Vingadores. Se o “pagamento” foi suficiente não posso dizer.

Obviamente o fim já havia sido arquitetado e a trama começou na saga Dia do Julgamento, que colocou X-Men, Vingadores e Eternos juntos, foi apenas mais do mesmo, porém, houve consequências sérias para os mutantes – principalmente para os residentes de Arakko. Mas foi em Pecados de Sinistro que o caldo entornou e vimos à que se referia a grande traição, o que não havia sido pensado é que esse seria o aterrador fim de Krakoa… E Sinistro nem foi o maior traidor da história.

O Hellfire Gala 2023 veio para coroar tudo de ruim que havia sido planejado para os mutantes. Se tragédia é o que define essa minoria vamos massacrá-los de forma grotesca e estúpida, usando um argumento pífio tudo foi jogado fora.

A festa de gala mutante só não foi uma carnificina maior pois, por um milagre, tiraram um argumento de mandar os sobreviventes para outro planeta. Não há explicação, motivo, razão ou circunstância que me faça entender que os humanos junto das máquinas ainda tiveram piedade dos mutantes e no lugar do genocídio prepararam uma viagem só de ida para Marte. Sem mencionar que o ataque de Nimrod não ser detectado por NENHUM SENSOR OU MUTANTE é um argumento para esculhambar qualquer fã de quadrinhos.

Mas não acaba aí: na tentativa de chegar em outro planeta os mutantes acabaram indo para o Quarto Quente Branco, colocaram Charles Xavier fora do espaço e do tempo e – acredite – a solução para a sobrevivência em um mundo que os odeia sairá daí. Ah é, e mataram e reviveram a Jean Grey de novo para que a Fênix salve os mutantes… De novo!

Este inverno mutante tenta ressuscitar Magneto de uma maneira irritante e inexplicável, o destino do Fera é mais uma piada, as histórias de Wolverine devem satisfazer apenas garotos de 13 anos… É tudo tão ruim que duvido que haverá novamente terreno para uma primavera mutante.

Capitalismo matando a criatividade (mutante)

A nostalgia pode ser extremamente perigosa e danosa como estamos vendo com os quadrinhos de X-Men. Mas nada é tão ruim que não possa piorar, afinal a Marvel Comics é apenas mais uma divisão da Disney que, por sua vez, também é dona da Marvel Studios. Esta última é ainda o maior (e provavelmente o melhor) estúdio de cinema de super-heróis, o que torna tudo muito mais lucrativo e interessante para os investidores.

E, neste contexto vemos o advento de um novo editor para as revistas mutantes, um nome muito conhecido e respeitado nos quadrinhos: Tom Brevoort. Mas, o que deveria ser algo a se comemorar é extremamente preocupante já que foi noticiado pelo Bleeding Cool que o novo editor foi procurado pela Marvel Studios com “preocupações” à esta fase de Krakoa por diferir demais dos clássicos dos anos 90 e, principalmente, do megassucesso que é a animação X-Men 97. Os acionistas não vão ficar contentes de lançar um filme de um gibi que mostra uma história diferente dos mutantes.

Gostaria que essa parte fosse mentira.

Em outra notícia é mostrado o quanto os planos de Jonathan Hickman foram alterados devido a prioridades de vendas. Namor teria um papel maior na Era de Krakoa, Franklin Richards não teria deixado de ser um mutante e o Mancha Solar no Império Shi’Ar teria um papel bem maior do que teve. Mas as vendas eram mais importantes do que contar uma história original.

Mas isto não é de hoje, a Marvel Comics já deixou de publicar um título por conta dos filmes planejados para ele. Se você não se lembra, o Quarteto Fantástico SUMIU dos quadrinhos por ANOS. Sua volta só se concretizou após a Disney ter comprado a Fox.

Mutantes ultrapoderosos, que poderiam simplesmente alterar a realidade tiveram um papel muito especial em Krakoa, mas foram removidos com argumentos no mínimo duvidosos. Legião, filho do Professor Xavier, se transforma num rifle (sim) enquanto o destino de Kevin MacTaggart, o mutante Proteus – filho de Moira, simplesmente sumiu.

A Marvel perdeu uma chance tremenda de trazer algo mais interessante e diferente para os quadrinhos de super-heróis que, invariavelmente, vivem estagnados no mesmo ponto sempre repetindo argumentos duvidosos atrás de mais vendas. Eu vi o salto de qualidade na arte e no argumento quando A Era de X-Man acabou – e foi horrível – agora com o fim de Krakoa vejo tudo isso voltar novamente. Mortes foram utilizadas apenas com o intuito de chocar inicialmente e trazer um argumento vazio e irrelevante. Nem preciso falar da minoria que não é exatamente um X-Men, mas um mutante, que foi simplesmente largada no Quarto Branco Quente pelo “bem da história”.

Krakoa é para todos os mutantes… E neste ponto você pode até me chamar de Exodus se quiser.

Por Rodrigo Castro

Debochado e inconveniente. Escritor, roteirista e designer de brincadeirinha.

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