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Apenas mais uma história

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Farofeiros e farofeiras,

Não falarei sobre a fálica data intitulada apenas aos enamorados, tal tipo de convenção social me enoja e só me faz querer fazer como certos padrões que me deixam enjoados como uma serra mal planejada e com mais curvas do que deveria.

Mas, contudo, isso não me impede de contar uma pequena anedota bonitinha e, quem sabe, romântica.

Era uma vez um semideus, lindo, maravilhoso, charmoso, que almeja a perfeição muscular, já que a intelectual ele já possui e um belo dia, ao começar seus exercícios de braço ao som de Edith Piaf seu celular toca. Toca agressivamente. Toca um funk, mostrando o quão sério ele está em chamar a atenção.

É um número desconhecido, pelo menos não estava em sua agenda, “Deve ser alguém me pedindo algum favor.” pensou, atendeu rispidamente com um “Alou?”. Sim, respondeu com uma pergunta.

“Ciclano?” perguntou a voz feminina vagamente familiar, “Sim, quem fala?” indagou o semideus. “É Fulana, tudo bem?”. Fulana. FULANA! FULANA ME LIGANDO! Não, ele não falou isso, só pensou, foi apenas um segundo mas tudo veio a sua mente de uma vez só: quando se conheceram, começaram a namorar, passaram vergonha juntos e também o dolorido término e as suscetíveis tentativas de reatar a relação, ele foi bloqueado, mesmo depois de um bom tempo e apesar do silêncio ele ainda a amava. Para não emitir um granido ou algum som indescritível pela raça humana resolveu atender as convenções sociais “Nossa, quanto tempo, tá tudo bem?”.

Sem demora a resposta veio “Sim, tudo bem. Você está ocupado? Queria conversar com você.” COMO ASSIM? Pensou, o que ela quer comigo depois de tudo que aconteceu? “Claro, posso sim, mas não seria melhor pessoalmente? Acho que já pisei muito na bola para ser mal entendido via email ou telefone.” Ponderou sabiamente, mais tarde ele se gabaria de ter exclamado algo tão correto, direto e espontâneo, acho que isso que se chama maturidade.

Marcaram um horário em sua casa, se despediram de maneira educada mas pouco íntima, não era um encontro, nem um jantar. Ele não sabia o que era, bem, nem eu sei o que vem ser isso.

Hora marcada, faz uma hora de que o tal semideus estava pronto, sentado no sofá transpirando e tentando não se irritar com a tevê que insistia em não passar as imagens que ele gostaria de ver, seu próprio futuro. O que seria altamente tranquilizante e vantajoso, dependendo ele poderia acender velas, abrir um vinho ou apenas colocar um protetor escrotal para evitar maiores danos a suas bolas.

Com quatorze minutos e trinta e um segundos toca a campainha. Pulo é a palavra mais próxima de expressar a ação que ele teve ao ouvi-la.

“Olá! Entre por favor.” Ele disse isso inclinando o rosto esperando um cordial beijo na bochecha, mesmo que fosse daquelas que apenas fazem barulho no ouvido. “Oi” Veio como resposta junto com o beijo estalado. Depois ele pensou que na verdade não queria nada disso. Os dois pareciam meio constrangidos, ele tentou pensar em alguma piada, gracinha ou qualquer coisa para quebrar o gelo. Falhou miseravelmente.

Indicando o sofá pediu que se sentasse e ficasse a vontade, nessa hora ele não pode conter o pensamento de ela ficar “a vontade”, para ele esse ato envolveria pouca roupa, muito pouca roupa mesmo. Mesmo no frio. Mas ficou calado e nem um risinho soltou, mais uma vez ficou orgulhoso de si mesmo.

Apesar de ela ter ligado, parecia mesmo que ela não sabia o que dizer, que mesmo tendo passado anos e ter sido tão facilmente encontra-lo ela aparentava não fazer ideia do que faria ali. “Olha…” ela começou, mas ele a cortou abruptamente. “Antes de mais nada preciso te pedir uma coisa, a muito tempo estou com saudade de você e, independente de qualquer coisa, da conversa ou de qualquer merda que eu venha a dizer, por favor, posso te abraçar?”. Ela inclinou um pouquinho apenas a cabeça para a direita, sorriu um sorriso de alívio e abriu os braços. A posição não era a melhor, pois estavam sentados e rapidamente o prazer inicial foi substituído por um incomodo fenomenal, como se aquilo não fosse correto, mesmo assim não pararam de sorrir, nenhum dos dois.

Não demorou minutos, foram segundos, mas bastou. “Bom, acho que agora eu paro de cortar sua fala!” ele disse sorrindo e ela sorriu mais ainda.

“Vi que está solteiro, também andei lendo algumas coisas que você escreveu. Incrível como você coloca indiretas em tudo!” Mais uma vez o semideus dá pulos internos de alegria contida internamente, acompanhados de um grito de “ELA PERCEBEU!”. “Não sei se você tem raiva de mim, só sei que demorei para perceber que amo você.” Agora o tempo pára, a areia pára de escorregar na ampulheta, a bateria do relógio digital acaba e o relógio de seu computador esquece da sua real função.

A história acaba aqui também. A questão de toda essa história não é se ela é real ou de mentira, a pegadinha é que não existe questão. Ela sabe o que quer e ele tem o que ela quer. Oferta e procura. Tão fácil quanto comprar banana prata da feira de domingo. A oportunidade existe, você vai busca-la ou não.

Pensamento do Dia:Onde está o Roger Rabbit quando se precisa dele?” Bêbado ao meu lado, ontem no boteco.

Por Rodrigo Castro

Debochado e inconveniente. Escritor, roteirista e designer de brincadeirinha.

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