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A primeira vez que assisti Akira

A comovente história – ou nem tanto – da primeira vez que assisti Akira.

A década de 80 foi um susto para o Brasil – o fim da ditadura militar permitiu que os brasileiros tivessem contato com produtos que antes seriam impedidos de entrar no nosso país. Em 1988 fui bem sortudo, meu pai fora contemplado quase que imediatamente em um consórcio de videocassete, aquele famoso aparelho que era um toca fitas mas com filmes VHS. Sim, eu sei que você nem consegue imaginar tal tecnologia arcaica, mas foi nesse artefato pré-histórico que pela primeira vez que assisti Akira.

Meu pai sempre foi uma pessoa que considerava meus hobbies algo chamado de “cultura inútil”. Como sou obediente acabei criando um blog e hoje sou um velho que não fica longe da amada e idolatrada “cultura inútil” que ele me apresentou – mesmo que sem querer.

A primeira vez que assisti Akira - Katisuhiro Otomo - Blog Farofeiros

Como disse acima o consórcio para videocassete era algo que obrigatório – ninguém tinha dinheiro o suficiente para gastar numa besteira dessas. Afinal depois de um tempo os filmes dos cinemas acabavam passando na TV… Ou não.

Tudo começa a ficar realmente interessante no momento em que ele pega o aparelho mas percebe que aquela maravilha tecnológica não teria serventia alguma sem uma outra pecinha: a fita de videocassete VHS. Foi então que o intrépido pai dos anos 1980 foi até o centro da cidade fazer uma carteirinha na locadora mais badalada do momento. Não me lembro do nome da locadora mas era bem pequena e tinha uma gaivota voando na frente de um pôr-do-sol, como 90% das coisas tinha de símbolo na época.

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Me lembro do carpete (!) marrom da locadora e de suas prateleiras cheias de filmes americanos com homens bombados com armas gigantes. Mas meu pai não poderia deixar que seus pequenos filhos assistir matança do imperialismo norte-americano antes do tempo. Foi então que tudo foi pro saco.

Resolveu então perguntar para o atendente da locadora sobre o que poderia levar para seus filhos assistirem. Não sei como foi o diálogo mas imagino alguém muito pouco interessado em seu próprio trabalho, mas às vezes gosto de imaginar um grande e sábio otaku tentando disseminar seu plano de dominação global criando otakiquinhos. Na real nem sei como um lançamento do Japão chegou tão rápido no Brasil. Não sei, só sei que meu pai chegou com duas fitas em casa: Jaspion e Akira.

Obviamente eu e meu irmão ficamos vidrados naquilo, Jaspion assistimos tudo que conseguimos antes que passasse na TV (na época só tinha a aberta e não existia internet). Nos falaram que o anime Akira não tinha continuação – só anos depois descobrimos o mangá – mas procurei fervorosamente por algo tão emocionante e surpreendente como Akira.

Vimos outros animes, mas nada foi tão impressionante quanto a obra de Katsuhiro Otomo, e isso meio que nos afastou do estilo. Até hoje são extremamente raros as obras orientais que conseguem me deixar interessado.

O mais assustador disso é que hoje, com mais de 40 anos, é que alguém indicou Akira para crianças de 8 e 5 anos. Como alguém em sã consciência faria algo desse tipo hoje em dia? Amo Akira, mas aquilo definitivamente não é um “desenho para crianças”. O manga também me impactou bastante, mas aí quando fui completar a minha coleção já era burro velho… E já sabia que o manga “continuava” a história do anime, sim, totalmente torta a ordem dos acontecimentos na minha vida.

Não sei como alguém pode não se apaixonar por aquela história violenta mas cheia de humor e aventura. Não tenho lembranças de alguma trama que tenha me impressionado tanto naquela época… Bom, mal dá para compara com Jaspion, gostei também, mas não acho que dá para comparar nem hoje em dia.

Mas não posso dizer que tenho traumas da primeira vez que assisti Akira, a curiosidade que aquele universo me despertou foi algo impressionante. Antes já acompanhava os heróis da Marvel Comics em quadrinhos como Heróis da TV, mas nada havia me preparado para algo tão emocionante e intenso como aquele futuro apocalíptico de 2019 em Neo Tokyo.

Se bem que o apocalipse que a gente tá em 2021 também não é agradável né. Mesmo com a moto do Kaneda (de verdade) que ninguém pode comprar.

Por Rodrigo Castro

Debochado e inconveniente. Escritor, roteirista e designer de brincadeirinha.

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